Percurso e memória transformados em arte
Impressão em canvas/velvet, pintura e colagem
"A colagem aparece como um recurso metonímico em que fragmentos diversos fazem referências a situações vividas, caminhos percorridos, memórias resguardadas. Uma tal cartografia, assim desabrigada, fala-nos muito mais sobre os múltiplos lugares que nos habitam, do que sobre os sucessivos espaços que ocupamos, ainda que temporariamente."
Neiva Bohns
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"O olhar da artista passa a ver representações que remetem a imagens cartográficas e desenvolve seu trabalho de forma a permitir ao espectador perceber a sua Geografia do Acaso. São imagens que falam de recombinações, de distorções, fusões, do efêmero, do não intencional."
Vera Lannes
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"Esta série de pequenas obras nasce de uma observação gráfica e poética de Otávio Paz, para quem as manchas de muros urbanos têm a capacidade de inventar mapas e mapa-múndi imaginários."
Graça Marques
Impressão em canvas, pintura e colagem
"Nesta série Graça Marques desenvolve um farto diálogo com o grande formato, apropriando-se de imagens reais para criar um espaço imaginário, onde o real e o virtual se confundem."
Anuário de Arquitetura
Técnica Mista e Pintura (Colagem)
“Materiais e superfícies desgastadas pelo tempo, paredes descascadas, madeiras quebradas, metais corrorídos. Estes são os elementos com os quais Graça Marques realiza seu trabalho. São materiais transformados pela ação do tempo, ou melhor, pela Actio Temporis (...)”
Marco de Araujo
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“Visões Pictóricas têm como imperativo determinante de seu processo de criação, imagens confiscadas mecanicamente, das fachadas e estruturas arquitetônicas de um antigo prédio que serviu como armazém para depósito de couro na épocadas charqueadas, em Pelotas.”
Niura Legramante Ribeiro
Leia MaisTécnica Mista e Pintura (Colagem)
"Los soportes duros, un color más caliente y radical en sus presencias monocromáticas y una voluntad evidente de geometrismo, caracterizaron su trabajo (...) basados fundamentalmente en el "collage" y la incorporación de diferentes semánticas derivadas de "cartones encontrados" de los que aprovecha letras, números, fragmentos publicitarios, referencias de marca o resortes del propio ensamble del material utililitario, convenientemente manipulado."
J. Castro Beraza
Leia MaisPintura e colagem
"Sua obra é constituída por esses pobres destroços de nossa época desperdiçadora e demente, que ela transforma, como seus ilustres predecessores, em "obras de arte", simples e rugosas, segundo uma espécie de Zen desordenado."
Jean Pierre Forget
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“Nos anos 80, começa a utilizar colagens com jornal junto com fios metálicos, juta, pedra pomes, pó de mármore, para dar consistência à pintura. Posteriormente, agrega a esta pintura elementos encontrados como pedaços de madeira, papelões, caixas, suportes encontrados sobre os quais realiza seus trabalhos."
Marco de Araujo
Leia MaisFormada em Artes pela Universidade Federal de Pelotas, tornou-se especialista em História das Artes Plásticas pela mesma Universidade, para doutorar-se em Pintura, logo a seguir, pela Universidade Complutense de Madri - Espanha.
Através da inclusão de papéis, cartões, madeiras, terras, cordões ou fios metálicos e emprego da fotografia digital como elemento compositivo, Graça Marques busca a construção de uma poética em que a técnica da Colagem é protagonista, conferindo à obra um caráter tátil, que perpassa uma linguagem transversal e intrínseca à contemporaneidade e que a vincula ao informalismo europeu.
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No Tratado sobre Pintura, o renascentista Leonardo da Vinci aconselha: pintores devem parar e olhar para as manchas nas paredes, as cinzas de uma lareira, as nuvens, a lama e, se as consirerarem bem, poderão encontrar ideias maravilhosas. A artista apropria-se da reflexão suscitada pelo gênio italiano, de que a pintura não é uma prática expressiva, intuitiva ou emocional, mas intelectual, e considera uma mancha como condição possível, mas não suficiente, para a criação de uma paisagem. Os trabalhos dela têm, há tempos, relação entre a fotografia, a pintura e a colagem, deixando de fora o suporte tradicional, como a tela.
Graça utiliza-se de texturas como conceito e da cartografia como linguagem, fazendo transposição entre o virtual da fotografia e o real representado nas imagens ressignificadas. Nessa reunião de 40 obras – sendo sete gravuras, que não integram a mesma série -, Graça detém-se a manchas de paredes que remetem a mapas.
Ela cria cartogramas a partir de imagens encontradas em superfícies, colhidas em lugares diferentes, em momentos diversos. Fragmentos captados podem remeter a Pelotas, a Porto Alegre, ao Uruguai, à Espanha ou anenhum desses locais, evocando a ação do tempo ou outras interferências sofridas por essas superfícies.
- Essas imagens surgem aleatoriamente, mas no decorrer do trabalho, os caminhos surgem espontaneamente e passo a ter uma busca intensapor isso – conta.
Como produz uma arte não figurativa, costuma provocar no público uma reação de curiosidade e interação. Segundo ela, as pessoas dizem o que fariam de diferente com uma determinada imagem, em relação ao trabalho exibido na galeria. Ela, no entanto, detém-se ao que desperta a atenção em umaatenta observação do comum.
- "Manchas sempre evocam coisas", desafia.
Tríssia Ordovás Sarori
novembro, 2012
“Visões Pictóricas”, denominação dada por Graça Marques paraa presente exposição que inaugura a Mural Galeria de Arte, têm como imperativo determinante de seu processo de criação imagens confiscadas mecanicamente, das fachadas e estruturas arquitetônicas de um antigo prédio que serviu como armazém para depósito de couro na época das charqueadas, em Pelotas, e que foi parcialmente demolido para abrigar, atualmente, o espaço dessa galeria. Com o testemunho gráfico da fotografia – esta prótese tecnológica no dizer de Joan Fontcuberta, utilizada para ampliar nossa capacidade mental de armazenar informação – e, com intervenções de ordem matérica sobre tais imagens transpostas para tecidos, a artista presentifica a memória do edifício. A fotografia penetra no seu trabalho com um sentido empregado por Barthes, como um noema, como atestado que aquele visível existiu, como uma marca, um jogo depresença e não-presença.
Retrabalhando as fototransferências, por adição e subtração, Graça Marques cria obras individualizadas e conjuntos de módulos de dimensões variadas. Há uma carga escultórica e/ou objetual em seus trabalhos pictóricos. Suas operações plásticas despem a convenção do quadro tradicional ao deixar a nú a própria moldura que tem tanta relevância e participação estética quanto as imagens representativas planas, recolocando assim, a questão contemporânea dasfronteiras imprecisas entre o bidimensional e o tridimensional: ora o vazado do bastidor valoriza a parede de fundo e a toma superfície, ora o vazado é preenchido com tela de tapume e cria transparências que, segundo a artista, metaforizam a ideia de veladura. A imagem é suporte e o suporte é imagem.
Em alguns trabalhos há um sentido tautológico entre a imagem fotográfica de uma madeira e/ou ferro corroído e o material agregado, respectivamente, da madeira e ferro enferrujado sobre as superfícies. Parece haver também uma tautologia de lugar associando a grafia do endereço nas imagens ao lugar de existência da galeria. Embora o edifício tenha perdido sua função original, tal local conserva imagens indiciárias de memória do prédio,como uma parede com tijolos à vista, da antiga construção. Neste local Graça Marques entrelaça a sua poética com a memória arquitetônica dispondo, num andaime de construção, fotos retrabalhadas em tons de sépia, do antigo teto ede mãos de trabalhadores juntamente com o texto de Henri Focillon “Elogio da Mão” – mãos que ajudam na percepção das aparências, quase seres animados ,talvez serviçais, não importa, mãos que dão corpo a pensamentos ou mãos que constroem abrigos.
Nas obras dessa exposição, matéria e imagem, fotografia, pintura, desejo, objeto, escultura, arquitetura, configuram elos inseparáveis.
Niura Legramante Ribeiro
Março, 2003
O que passa pela nossa mente quando observamos essas manchas inusitadas que surgem nas paredes? E o que vemos naqueles rasgos gradualmente feitos na matéria, naquelas partes descobertas, que deixam à mostra, por força da natureza em constante transformação, camadas insuspeitáveisde antigas superfícies? Por certo levam a lugares secretos, do tempo ou do espaço, esses riozinhos que se abrem nos muros, delineiam formas e sugerem territórios inexplorados.
E, se, ao invés de prestarmos atenção nos caminhos que precisamos seguir, nos horários a cumprir e nas tediosas tarefas burocráticas do dia, ficarmos absortos olhando para astexturas dos pavimentos, como se nos dessem notícias da existência de universos inalcançáveis?
Um tal estado de atenção aos detalhes, advindo da experiência estética, poderia levar à curiosa condição do viajante que está sinceramente mais interessado nos caminhos percorridos do que no local a ser atingido. A viagem, assim conduzida, portanto, nunca terminaria. De que serviriam os mapas, então, feitos de imagens casualmente coletadas eenriquecidos com pequenos eventos plástico-visuais, surgidos ao acaso, na experiência de flanar pelas ruas, sem um ponto de partida definido, e sem um ponto de chegada almejado?
No trabalho de Graça Marques, a colagem aparece como um recurso metonímico em que fragmentos diversos fazem referências a situações vividas, caminhos percorridos, memórias resguardadas. O gosto pelas texturas e pelas matérias apresentadas em toda sua crueza, sem disfarces e/ou correções, associadas a elementos encontrados ao acaso, acompanha a trajetória da artista, desde suas primeiras experiências, ainda na década de 1980. Mais recentemente, imagens impressas com tecnologia digital recebem intervenções matéricas e densas, que transformam as superfícies planas em territórios acidentados. Uma tal cartografia, assim desabrigada, fala-nos muito mais sobre os múltiplos lugares que nos habitam, do que sobre os sucessivos espaços que ocupamos, ainda que temporariamente.
Mas em todos estes mapas – desde os módulos azul-prateados que organizam o espaço pelo recurso da repetição, passando pelas superfícies pontuadas por faixas de tecido que lembram os padrões da OpticalArt, até as caixas douradas em que transparecem delicadezas –, a preocupação estético-compositiva está sempre presente, como se o conceitualismo cartográfico, saudoso do pensamento modernista, nunca tivesse deixado de sersubjugado pela boa forma. Essa cartografia, ainda que imprecisa, toma existência no espaço surgido entre arealidade observada e uma gramática constituída de signos avulsos, sem serventia quando isolados (algo parecido com letras descasadas que não conseguem formar vocábulos). Na abordagem poética da artista, como na experiência da deriva, as partes perdidasou associadas aleatoriamente se reconstroem. Um instinto vital, cujo fôlego nãose apaga, fará surgir novas cartografias sempre que algum lugar aindadesconhecido merecer ser inventado.
Neiva Bohns
Maio, 2018
Materiais e superfícies desgastadas pelo tempo, paredes descascadas, madeiras quebradas, metais corroídos. Estes são os elementos com os quais Graça Marques realiza seu trabalho. São materiais transformados pela ação do tempo ou, melhor, pela ActioTemporis conforme o título que escolhe para esta exposição.
Graça, para a execução de sua obra, apropria-se então de materiais trabalhados ao acaso e de imagens produzidas também ao acaso pela mencionada ação do tempo. Entretanto, não é por acaso que seus encontros acontecem. Seu trabalho é fruto de uma longa e séria pesquisa desenvolvida tanto no campo prático como no campo teórico. É importante lembrar que a arte matérica foi o tema de sua tese de doutorado.
Mas, voltando a sua prática artística, já nos anos 80, começa a utilizar colagens com jornal junto com fios metálicos, juta, pedra pomes, pó de mármore, para dar consistência à pintura. Posteriormente, agrega a esta pintura elementos encontrados como pedaços de madeira, papelões, caixas, suportes encontrados sobre os quais realiza seus trabalhos. Sua obra segue, portanto, a corrente da arte matérica, onde se encontram artistas como Alberto Burri e, principalmente, Antoní Tàpies a quem estudou com maior atenção.
A partir de 2000, incorpora, aos elementos matéricos, a fotografia transferida para o papel que usa como colagem. E nos trabalhos que nos apresenta nesta exposição - e que já vem desenvolvendo há algum tempo - mistura materiais reais trabalhados pela ação do tempo com foto transferências em tela destes mesmos materiais oriundos de construções e demolições, buscando, nas imagens seus aspectos abstratos.
Graça cria, portanto, nestes trabalhos, um diálogo entre a matéria encontrada, bruta e até mesmo tosca, e os sofisticados recursos tecnológicos da fotografia e da fototransferência. Trata-se, pois, de uma obra eclética - ou híbrida como preferem alguns - onde o real e o virtual se fundem e se confundem, pois quando olhamos seus trabalhos de uma certa distância, não podemos distinguir o que é matéria real e o que é imagem fotográfica.
E por falar em encontros, ainda que antes fossem só de materiais, não é demais lembrar que autilização ao mesmo tempo de procedimentos tão diferentes foi mais um grande encontro da artista na realização de sua obra que, aliás, demonstra uma grande coerência, maestria e sensibilidade. É por isso e por todo o exposto que é possível afirmar que o trabalho de Graça Marques está inserido - e com muita propriedade - no contexto da arte contemporânea ou por que não? - no contexto da arte da pós-modernidade.
Marco de Araujo
outubro, 2004
Esta artista brasileña de Porto Alegre, reside en España desde 1986, aunque todos los años regresa a su país durante dos meses para celebrar una exposición. A mediados de los 90 se doctoró en la Facultad de Bellas Artes de Madrid con un interesante trabajo sobre los materiales pictóricos del arte contemporáneo que, entre otras muchas cosas, evidenciaba un profundo conocimiento de las vanguardias históricas y de la más relevante pinturacontemporánea española.
Cuando Graça Marques llegó a nuestro país, era ya una artista formada, en busca de una madurez cuya decantación se iba a producir entre nosotros en unos años de eclosión cultural, de convivencia de tendencias artísticas y de profundos cambios en todos los sentidos. Una etapa, sin duda, tan fogosa como ecléctica, de mil caminos abiertos y otros mil ya definitivamente agotados, pero casi todos en el retortero de la revisión, expuestos a las múltiples alquimias, recuperaciones, en mascaramientos y rescates ideológico culturalesque cada cualquiera poner sobre el tapete. Era un buen momento para una pintora que quería encontrar un lenguaje personal.
En su obra "Por una teoría de la pintura", N. Tarabukin dice que "el pintor contemporáneo se caracteriza por su especialísima veneración al material". La pintora brasileña participa de esa veneración. Primero con la arena, la piedra pómez, las cuerdas, los alambres... Más tarde vendrían los "collages" con papeles elaborados por ella misma, los cartonajes, los "materiales" de basurero: embalajes, cajas, cartones. Podríamos decir que ya desde los años 80 el "collage" presidía el que hacer la Gracia Marques de manera casi absoluta. Cuando llega a España, los soportes duros, un color más caliente y radical en sus presencias monocromáticas y una voluntad evidente de geometrismo, caracterizaron su trabajo. La presente muestra (primera individual en Madrid tras varias muestras colectivas importantes en distintas galerías de la capital) resume confidelidad el trabajo de la pintora en estos últimos años, tanto en lo referente a los planteamientos geométricos que afectan al diseño de las formas, como en los técnicos, basados fundamentalmente-te en el "collage" y la incorporación de diferentes semánticas derivadas de "cartones encontrados" de los que aprovecha letras, números, fragmentos publicitarios, referencias de marca o resortes del propio ensamble del material utilitario, convenientemente manipulado.
Atrás había quedado una obra paisajística interesante en la que sol ía aparecer una forma de ventana - dentro del habitual "cuadro ventana" del paisaje convencional que ordenaba la pintura tanto en la primera instancia de la perspectiva como en la que atiende a la profundidad visual del paisaje. Esa ventana - me dice la artista - sigue viva en su obra actual como concepto de ordenación de un esquema abstracto que estas arquitecturas o "sintaxis urbanas", como han sido llamadas en otras ocasiones, no han abandonado jamás, si bien ahora dentro de un concepto espacial distinto, de más riguroso y diferenciado alienta geométrico. Un aliento geométrico que, en sus preferencias juveniles de estudiante, Graça Marques contemplaría en los lienzos de Tarsila do Amaral, Cicero Días o Milton Dacosta por los museos de su Brasil natal.
Graça Marques está más cerca ahora de ciertos "perfumes" de El Paso o de Washington Barcala que de las anteriores referencias históricas aque hemos hecho alusión. Pero como pintora joven que es, esa vehemencia espacial suya, en proceso continuo de depuración formal y cromática, nos brindará de inmediato el alcance futuro de su que hacer, ahora apasionante como reto de una expresión personal de indudable categoría, como acaba de poner de manifiesto en su reciente exposición individual en Altea.
J. Castro Beraza
maio, 2002
A posteridade de Schiwitters, Alberto Burri, Milliarés e Tapiés está bem viva e sempre presente (plena). Esse tipo de “pintura”, com todas suas variações, se caracteriza pelo emprego deliberado dos materiais mais modestos (recortes de jornais, pedaços de tecidos, pontas de papelão...), a utilização correlativa de cores brutas (fornecidas em geral pelos próprios materiais) e a valorização do relevo que rompem com a planeza pictural clássica.
No plano intencional, esse estilo pós-pictural significa sem dúvida e ao mesmo tempo a negação do narcisismo artístico, a busca de uma simplicidade imediata e a oposição corolária a toda a espécie de sofisticações (sociológicas, sociais, técnicas e estéticas) – o que não exclui, muito pelo contrário (e em oposição à arte abstrata geométrica ou à arte minimalista, ambas impessoais e frias) um expressionismo militante e virulento. A respeito disso, Tapiés e principalmente Milliarés culminaram num “matiérisme” dramatúrgico e mesmo trágico.
Graça Marques (e seus companheiros) retoma pois o archote (a luz) do que já é uma tradição específica. Sua obra, próxima da maturidade, é constituída por esses pobres destroços de nossa época desperdiçada e demente, que ela transforma, como seus ilustres predecessores, em “obras de arte”, simples e rugosas, seguindo uma espécie de Zen desordenado. Sua série dos “âmbitos” toca tanto o espírito (o intelecto) quanto os sentidos (olhar e o coração) pela rudeza do material, a anarquia ou desordem intencional da apresentação, a ausência de um certo ilusionismo figurativo e a força da expressividade rebuscada (em especial numa certa “pós-pintura” mais dilacerante do que as outras).
Aliás, parece-nos que é no caminho dessa expressividade exacerbada que sua maneira deve continuar para atingir a plena maturidade pessoal, desligando-se cada vez mais de seus grandes antepassados e dando-nos,com seu modo viril e robusto, a réplica feminina de um Milliarés, como uma Kâli associada a um Shiva trágico – ambos desconcertados da mediocridade saciada e satisfeita de uma Humanidade estúpida que desperdiça todas as riquezas do mundo e polui todas suas belezas.
Jean Pierre Forget
O chão é a tela onde transita a natureza, o tema concreto da pintura material. A terra é a matéria primitiva. Ideia que antecede a gênese dos seis dias transformadores. Metáfora do tempo não humano, infinito. A pintura Material parte do grão puro com a luz opaca. Sua luz está na própria interioridade como espaço virtual. A pintura de Graça Marques é absolutamente moderna. Em Tapies e Burri os seus mestres. Como artista, Graça não privilegia o horizonte, não olha para o céu. Sua perspectiva está longe da transparência aquarelada dos paisagistas da alma. Não vê marinhas, nuvens ou florestas. O seu tema é a terra. A terra comopotência do homem contra a transparência infinita do céu.
Sintaxe espontânea indicando livremente através da ação a posição exata da matéria em si mesma: pó, texturas, relevos grossos que se revelam à luz em cromatismos detons terrosos, brancos e negros.
A sua pintura indica relevo até quando plana. É forma que sai da superfície, paisagem imaginária da terra que a artista oferece à humanidade.
Kleber Ferraz Monteiro
Madrid, fevereiro, 1986